quarta-feira, 3 de julho de 2013

Militares e oposição orquestram golpe e derrubam presidente do Egito

Mohammed Mursi, primeiro presidente eleito democraticamente no Egito, foi deposto nesta quarta por um golpe de Estado das Forças Armadas, associadas à oposição política, após milhões terem ido às ruas pedir sua renúncia.
De acordo com relatos, ele foi avisado pelas Forças Armadas por volta das 19h do horário cairota (14h, em Brasília) de que não o ocupava mais o cargo.
Às 21h, Abdul Fatah al-Sisi, chefe do Exército, anunciou a deposição e apresentou os próximos passos políticos a serem tomados no país. Seu discurso foi encoberto, nas ruas, pelo clamor popular e os fogos de artifício que tomaram o céu.
Al-Sisi também anunciou a suspensão da Constituição vigente, aprovada em dezembro em referendo popular e escrita por uma Assembleia majoritariamente composta por conservadores radicais alinhados à Irmandade Muçulmana.
Segundo o anúncio, a Constituição está suspensa e o país será liderado, temporariamente, pelo líder da Suprema Corte Constitucional --conforme demandava a oposição.

Protestos contra o presidente do Egito

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Amr Nabil - 3.jul.2013/Associated Press
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Manifestantes comemoram a saída de Mursi do governo egípcio na praça Tahrir; presidente foi deposto após golpe militar
O líder da oposição a Mursi e Nobel da Paz, Mohammed ElBaradei, apoiou o golpe, pedindo "justiça social para cada um dos egípcios".
O xeque da mesquita de Al-Azhar esteve ao lado de Sisi durante o pronunciamento e discursou, manifestando apoio à manobra. O papa copta Tawadros 2º, líder da minoria cristã do país, também se alinhou aos militares, dizendo que "todos nós nos unimos debaixo da bandeira egípcia".
O fracasso do governo Mursi tem forte significado na região, por se tratar de um dos símbolos da Primavera Árabe. Em 2011, multidões depuseram o ex-ditador Hosni Mubarak, após décadas de regime.
A saída de Mursi também significa que falhou o governo baseado em uma modalidade política do islã. Em um momento histórico, a mensagem está clara para outros países em que a insurgência deu espaço para a ascensão de islamitas, caso de Tunísia e Iêmen.
O Exército do Egito havia estabelecido, na segunda-feira, um ultimato de 48 horas para que Mursi apaziguasse os protestos populares contra seu governo. No domingo, o aniversário de um ano de sua chegada ao poder motivara manifestações em massa no país.
O prazo dos militares foi encerrado às 17h (12h, em Brasília), e as horas seguintes foram de ansiedade e incerteza nas ruas do Cairo. Membros da Irmandade Muçulmana se reuniam em bairros protegidos por militantes, enquanto opositores comemoravam, mesmo antes da notícia, a deposição de Mursi.
As notícias foram esparsas, e davam conta, aos poucos, de que Mursi havia sido proibido de deixar o país e, em seguida, levado ao Ministério da Defesa para sua própria segurança. O Ministério do Interior aliou-se, durante a tarde, ao Exército.
O comunicado foi estabelecido após reunião entre a oposição, representada por Mohamed ElBaradei, líderes islâmicos do centro de estudos Al-Azhar e membros da comunidade cristã do Egito.
INTERINO
Caso se confirme o anúncio dos militares de que o chefe da Suprema Corte Constitucional assume o poder até a realização de novas eleições, esta tarefa deverá caber a Adly Mansour.
Ele era o primeiro-vice da Corte até o último domingo, mas foi alçado à presidência porque o então chefe do tribunal, Maher al-Beheiry, teve de se aposentar por limite de idade. O decreto que determinou a troca de comando na Corte a partir de 1º de julho foi assinado pelo então presidente Mohammed Mursi em 11 de junho.
Mursi havia sido eleito em 2012, após Mubarak ser derrubado. Ele assumiu um país em crise econômica e social e, durante seu mandato, irritou a população ao seguir uma agenda considerada como demasiada conservadora.

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