Enquanto aliados quebram a cabeça em conjecturas sobre o destino de um dos principais nomes petistas do Ceará, a prefeita Luizianne Lins afirma que vive um dilema: permanecer na esfera de militância pelas questões públicas ou se dedicar a projetos de foro íntimo, questão que passa pelo confronto entre liberdade e a política institucional.
Ela recebeu a reportagem do O POVO com exclusividade em seu gabinete, no Paço Municipal, na tarde da última sexta-feira (27). Numa entrevista de uma hora e meia, Luizianne se emocionou, disse que entregará a Prefeitura nas mãos de seu sucessor satisfeita e dizendo que o único ressentimento é de injustiças e acusações que sofreu durante os últimos sete anos.
O POVO – Seu futuro na política terá que ver também com o desenrolar da conclusão de gestão. O que podemos esperar para este 2012?
Luizianne Lins – Eu estou saindo muito tranquila e muito satisfeita de poder ter promovido em Fortaleza a transformação que a cidade vem passando. Para quem recebeu a cidade devendo quase R$ 300 milhões de restos a pagar, de dívida, manter a cidade funcionando e, cada vez mais acumulando índices de sucesso. (…) Embora muitas pessoas não reconheçam, nós vivemos numa cidade muito melhor do que eu peguei sete anos atrás. 2012 vai ser o fechamento de um grande ciclo. Isso significa a entrega de grandes obras.
OP – Hoje lhe apontam como uma das principais forças políticas do estado, diferentemente de 2004, em que houve uma candidatura de enfrentamento até com o próprio partido. Como podemos pensar você como figura política hoje em relação àquele momento?
Luizianne – Fui dez anos parlamentar, mas não chega perto do que é o Executivo (diz visivelmente emocionada). Hoje há uma Luizianne muito mais madura com relação a entender os processos políticos de forma muito forte. Inevitavelmente você vai ficando mais forte, no sentido de ter a dimensão do que você e de até onde você pode ir. Eu estou aqui por uma missão. Não entrei na política para fazer negócio ou para cumprir tabela de vaidade. Desde os primeiros anos de juventude eu dedico a isso o meu dia a dia; os melhores anos dos meus dias à luta do povo, em função de que o mundo melhore. E fico feliz de não ter perdido isso, mesmo com a dureza do Executivo. Sou uma pessoa com muito mais experiência e eu me permito aprender, porque a gente precisa de humildade com os processos da vida. Você precisa de muita sabedoria para todo dia tomar decisões e não se arrepender delas.
OP – Apontam, até agora, cinco espaços de atuação como projetos para você após a Prefeitura: Senado, Governo do Estado, cargo no Governo Federal, universidade ou uma segunda maternidade. Como vê cada uma dessas possibilidades?
Luizianne – Eu estou, de fato, numa relação de introspecção com relação a isso. Se eu quero permanecer na política na esfera pública ou não. Isto é uma coisa que me divide, me faz refletir sobre isso. Que eu vou querer eternamente lutar por melhores dias é inconteste. A forma como isso vai acontecer é que me divide e confesso, do fundo da minha alma, que vivo uma questão existencial com relação a isso. Minha vida, desde muito jovem, foi voltada para os outros. Fiz pouca coisa pra mim mesma. Tenho uma dívida com minha carreira acadêmica, tenho um Mestrado inconcluso. Eu hoje vivo esse dilema interior. Isso faz com que eu tenha dúvidas sobre o que vai ser o meu sentimento em 2013. Tenho muita vontade de poder voltar a ser pessoa física e responder por mim mesma, ser um indivíduo novamente. E vou viver isso. Não sei por quanto tempo.
OP – Isso passa pela maternidade?
Luizianne – Também por isso, se for o caso. Ter o direito de decidir. Tenho um filho de 12 anos, mas talvez eu quisesse ter tido muito mais filho. Ter o direito de decidir, ter essa liberdade. Eu sempre fui alguém que teve na militância um referencial de luta pela liberdade. Quanto mais livre um ser humano conseguir ser, mais feliz ele será. Isso nem sempre está no mesmo ritmo da política institucional. Não tenho resolvido: se vou permanecer na esfera pública ou se vou fazer na esfera mais íntima, como na universidade, ou se vou disputar cargo público. E, em 2014, se eu continuar na esfera pública, tudo pode ser colocado: posso ser candidata a deputada federal, a governadora do Estado, a senadora, posso ser cabo eleitoral. Mas eu devo passar um tempo fora do Brasil, concluir meu Mestrado e meu Doutorado, decidir se vou ou não ter outro filho. Eu acredito que dei uma boa contribuição, já.
(O POVO)
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