Roberto Setubal, principal executivo do Itaú, maior banco privado brasileiro, gosta de tudo o que tem visto do governo da Dilma Rousseff, e considera que a maior vantagem da gestão da presidente é a de “tornar o governo mais técnico e despolitizar as áreas que exigem discussão mais técnica”.
Participando pela primeira vez do Fórum Econômico Mundial, em Davos, Setubal ficou surpreso com o assédio do qual está sendo alvo por parte de investidores e empresários interessados no Brasil – em busca de informações sobre o País e sobre como o Itaú pode ajudar a viabilizar aqueles interesses. Os participantes do Fórum Mundial têm em Setubal um interlocutor que vai lhes transmitir uma visão fundamentalmente positiva do País e do governo da presidente Dilma Rousseff.
Otimista, ele acha que os juros cairão para um dígito, e considera que o Banco Central teve razão em começar a cortar a Selic, a taxa básica, em agosto, decisão extremamente criticada pelo mercado financeiro. Para Setubal, o atual governo está privilegiando a política de aperto fiscal para combater a inflação, rompendo com a tradição brasileira de usar mais a política monetária.
Segundo Setubal, as ambições de internacionalização do Itaú passam longe da Europa. Além do foco no mercado brasileiro, em franca expansão, o maior banco privado brasileiro está interessado em crescer na América Latina e realizar aquisição nos Estados Unidos.
Setubal observou que ele, Luiz Carlos Trabuco Cappi, principal executivo do Bradesco, e André Esteves, à frente do grupo BTG Pactual, estão pela primeira vez participando do Fórum de Davos. Enquanto o governo restringiu sua participação, com a ausência dos ministros da Fazenda, Guido Mantega, do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e do presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, o setor financeiro privado veio com toda a força a Davos, com a presença de três de suas maiores estrelas.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
A recapitalização dos bancos europeus, em meio à crise, pode gerar oportunidades para o Itaú?
Não estamos olhando a Europa para compra. O desenvolvimento do banco não é para a Europa, é muito mais para América Latina e talvez Estados Unidos, mas não Europa, nem Ásia ou Oriente Médio.
A fragilidade do setor financeiro europeu pode afetar o Brasil?
Acho que o Brasil será pouco afetado diretamente. Pode ser mais afetado indiretamente pela redução do crescimento do mundo. A Europa é uma parte importante do PIB global e a redução do crescimento acaba afetando vários países, os EUA, a China. De certa forma o Brasil, nesse contexto, acaba tendo uma redução do seu PIB. A conexão financeira do Brasil com a Europa é relativamente pequena.
Olhando para o mundo aqui de Davos, qual é o maior risco que o sr. vê?
A maior preocupação de todos hoje é a Europa. Até porque, na melhor hipótese, vamos ter um crescimento muito baixo da Europa por muitos anos. Isso afetará o crescimento da economia mundial e, de certa forma, do Brasil. Mas nada dramático. O Brasil é uma economia muito mais movida pelo seu mercado interno.
O sr. se preocupa com a inflação?
Quando você vai a uma inflação, por exemplo, de 6,5%, como no ano passado, passando por picos de 7,5%, é difícil ter uma taxa de juros de um dígito. Mas, se mantiver a inflação abaixo de 5%, acho perfeitamente factível manter a taxa de juros em um dígito.
Qual a sua opinião sobre a “faxina” do governo Dilma?
Não vou entrar nesse âmbito porque não saberia avaliar exatamente. Mas o que vejo na presidente é uma intenção de tornar o governo mais técnico, com presença cada vez maior de técnicos em áreas importantes. Ela está tentando despolitizar áreas que exigem naturalmente uma discussão mais técnica. Por exemplo, a área de meio ambiente, que já foi muito politizada no Brasil. Hoje, a ministra (Izabella Teixeira) tem uma característica técnica, fez carreira dentro do Ministério. Isso é bom, as coisas não têm de ser politizadas, têm de ter soluções técnicas. Esse caminho é importante para o Brasil, e a tendência de tornar o governo mais técnico deve ter o apoio de todos.
Quais são os grandes problemas a serem atacados no Brasil?
Hoje, posso dizer com segurança que o Brasil consolidou a estabilização da economia. Está institucionalizada no Brasil a intenção de manter isso, não é mais uma preocupação. Olhando à frente, duas áreas que vejo como fundamentais são a infraestrutura, no curto prazo, e a educação, no longo. Na infraestrutura, o Brasil está evoluindo, e telecomunicações e energia estão bem. Mas é preciso investir mais em infraestrutura e criar condições para isso.