quarta-feira, 25 de julho de 2012


Roberto Jefferson desafia o STF e diz que não aceita condenação

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BERNARDO MELLO FRANCO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Sete anos depois de denunciar o mensalão à Folha , o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, continua no ataque.
Às vésperas de ser julgado com outros 37 réus no STF (Supremo Tribunal Federal), ele sugere que o ministro Joaquim Barbosa tentará condená-lo e o acusa de "jogar para a galera" e buscar "aplausos em botequim".
Jefferson mantém a versão de que o ex-presidente Lula não sabia do esquema de compra de apoio a seu governo no Congresso e diz que será absolvido das acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
"Não serei condenado. Não serei preso. Escreve isso", diz.

Roberto Jefferson

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Daniel Marenco/Folhapress
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Entrevista com o ex-deputado e atual presidente do PTB, Roberto Jefferson, as vésperas do início do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, em seu escritório, no Rio de Janeiro
O petebista será operado sábado para retirar um tumor no pâncreas, descoberto na semana passada. Deve ficar internado até o início do julgamento.
Abatido, mas com discurso confiante, recebeu a reportagem ontem em seu escritório no centro do Rio. Na parede, um quadro exibe sua foto de olho roxo na CPI dos Correios, em 2005. Ele sustenta que foi atingido por uma estante num acidente doméstico. "Mas nem mamãe acredita", diz, aos risos.
*
Folha - Como o sr. se sente às vésperas de ser julgado pelo escândalo que denunciou?
Roberto Jefferson - Acho que está na hora. Chega. Quanto mais adia, mais aumenta o sofrimento. Em algum momento você tem que enfrentar, e a hora é agora.
O que espera do STF?
Penso que a decisão será severa sem ser política. O Supremo não vai permitir isso. A meu ver, o ministro Joaquim Barbosa [relator do caso] joga para a galera. Ele não sentencia no direito. O negócio dele é aplauso em botequim, ele gosta disso. O Joaquim devia se inscrever em partido político, daria um grande candidato. Eu o receberia no PTB de braços abertos. [risos]
E os demais ministros?
Os outros não têm esse negócio. A tradição da casa não é essa. Vai ser todo mundo absolvido? Não acredito. Mas não será uma sentença política. O Ayres Britto [presidente do STF] é amicíssimo do governador de Sergipe [Marcelo Déda, do PT]. Foi feito ministro por ele e não é comprometido. O Marco Aurélio, o Gilmar Mendes... O Ricardo Lewandowski, apesar da relação com o PT, tem uma postura independente.
Teme ser condenado?
Se eu tivesse medo, não dormiria à noite. Eles têm a história para julgá-los, a opinião pública. Tem coisas que não dá, apesar da amizade. Tenho certeza de que serei absolvido. Se é justo, não pode me condenar. Eu não aceito uma condenação. Não se aplica à minha conduta. Eu não me vendi. Não serei condenado e não serei preso. Não serei preso, escreve isso aí.
O sr. admitiu ter recebido R$ 4,5 milhões do esquema e é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Não tem o menor cabimento. Seria o fim da desfaçatez eu ter me vendido ao mensalão. Eu adverti o governo um ano antes. Adverti o Lula.
Nem tudo é mensalão. Não acredito que o [deputado petista] João Paulo tenha se vendido, acho absurda a acusação. Ele não tem nada a ver com esse troço. Foi lá, pegou R$ 50 mil e resolveu um problema da vida dele, mas não vendeu voto.
Sua alegação de que só recebeu dinheiro para saldar dívidas é a mesma de outros réus que o sr. acusou de venderem apoio ao governo.
Então o meu advogado, o [Luiz Francisco] Barbosa, está de parabéns. E ele é 0800, está me defendendo de graça porque é companheiro de partido e meu amigo.
O sr. já disse que o ex-ministro José Dirceu é seu "irmão siamês" no processo. Por quê?
Se ele não for absolvido, vai haver pressão para levar todo mundo. Se for, abre a porta para outras absolvições. Ele pode fazer a picada para outras condenações. A corte vai ter problema se condenar o Dirceu e não o resto.
Alguém tentou pressioná-lo ao longo do processo?
Não. Nenhuma ameaça, nada. Eu também não abro muito a porta. Nunca visitei um ministro do Supremo.
O que achou de aliados de Lula se reunirem com Marcos Valério, acusado de operar o esquema? Houve chantagem?
Não quero comentar isso. Seu advogado disse que Lula já sabia e autorizou o esquema. É verdade? O Lula custou a agir, custou a acreditar. Mas minha impressão é que ele não sabia. Tenho grande admiração por ele. É um grande político, não abandona os amigos. O Lula vai continuar sendo o Lula. Ele é povo, tem a catinga do povo.
O Supremo vai confirmar a história que o sr. contou? Outros réus sustentam não haver prova de pagamentos mensais por apoio.
Não sei se vão escrever a história que eu contei, mas há condutas que vão ser apenadas. O Ministério Público apostou na minha tese, mas não estou preocupado que ela prevaleça.
Minha denúncia era política, e eu sou vitorioso no efeito e na consequência que ela causou. A imprensa tratava o PT como se fosse o único partido bom, o filete de água limpa no cano de esgoto. Isso acabou. Mas não torço pela condenação de ninguém.
Tem algum arrependimento?
Faria tudo novo. Agora é história. O mensalão não me pertence mais. Não sou mais o protagonista.

Veja imagens que marcaram o mensalão

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Sérgio Lima - 30.jun.05/Folhapress
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Roberto Jefferson (PTB-RJ) aparece com o rosto inchado para depor na CPI dos Correios no dia 30 de junho de 2005. Jefferson contou que o olho roxo foi resultado de um acidente doméstico, quando parte de um armário o atingiu ao tentar alcançar um CD do Lupicínio Rodrigues

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