A maior parte dos inquéritos instaurados no Estado envolve verbas destinadas a ações na área da saúde
Pelo
menos 77 dos 184 municípios cearenses estão sob investigação da Polícia
Federal (PF) em razão de supostos desvios de recursos públicos
federais. Conforme a chefe da Delegacia de Repressão a Crimes
Financeiros e Desvios de Recursos Públicos (Delefin), delegada Cláudia
Braga, a maior parte das irregularidades averiguadas corresponde a
verbas destinadas para obras e programas na área da saúde e envolve
crimes de peculato e fraude em licitações.
Policiais
apreendem documentos e materiais que possam comprovar fraude nas
prefeituras. Em 2011, foi deflagrada operação em Barro FOTO: ELIZÂNGELA
SANTOS
O Ceará é o terceiro estado brasileiro com maior
número de inquéritos instaurados pela PF para averiguar crimes contra a
administração pública, conforme levantamento feito pela Diretoria de
Investigação e Combate ao Crime Organizado (Dicor). Para a delegada
Cláudia Braga, o tamanho do Estado e a quantidade de verbas recebidas da
União são fatores que contribuem para a grande incidência de
investigações no Ceará.
Nos últimos quatro anos, várias operações
foram deflagradas pela Polícia Federal em parceria com órgãos de
fiscalização e controle para averiguar desvios de recursos públicos no
Estado. Em algumas delas, foi feita parceria com o Ministério Público
(MP) Estadual, através da Procuradoria de Crimes Contra a Administração
Pública (Procap), por incluir nas supostas irregularidades também o uso
de verbas estaduais e municipais.
Conforme a delegada Cláudia
Braga, parte dessas operações estão em fase de elaboração de relatório. A
Gárgula, deflagrada em 2009, está sendo concluída, aguardando apenas a
análise de alguns materiais de informática apreendidos. Questionada
sobre a demora para se concluir as investigações de uma operação desse
tipo, ela explica que não há como estimar um tempo preciso em razão da
complexidade da fiscalização e da dependência de informações de outros
órgãos.
"Como são investigações que abrangem uma pluralidade de
municípios e de alvos, a conclusão acaba sendo mais difícil que um
inquérito normal em que você investiga apenas um fato", justifica,
acrescentando que o trabalho no inquérito envolve perícia, análise
documental e depoimento de todas as pessoas envolvidas. "Tudo isso
demanda muito tempo, infelizmente. Também tem os entraves judiciais",
aponta a delegada.
Sigilo
Cláudia Braga
afirma que a maioria dos trabalhos da Polícia Federal é realizada em
conjunto com outros órgãos de fiscalização e controle e, como a maioria
das investigações correm em segredo de justiça, é preciso pedir
autorização judicial para compartilhar as informações. "A gente trabalha
com vários tipos de medidas cautelares em uma grande investigação:
quebra de sigilo bancário e fiscal, às vezes interceptação telefônica",
diz.
foto
Órgãos como a CGU e o TCU apoiam as
investigações com o conhecimento técnico sobre a suposta fraude. Eles
têm acesso a tudo o que é produzido no inquérito para produzir
relatórios explicitando as irregularidades encontradas. "Após a
apreensão do material, policiais analisam o que é aferido e a CGU produz
o relatório para dizer, por exemplo, se o processo licitatório seguiu
todo o trâmite. A gente vai alinhavando o caso para dar subsídio ao MP
para oferecer a denúncia", explica a delegada.
A PF criou, em
janeiro do ano passado, delegacias especializadas em crimes contra a
administração pública em 16 estados e no Distrito Federal com o intuito
de acelerar os inquéritos. No Ceará, foi criada a Delefin, que atua com
quatro delegados exclusivos para tratar de desvios. Cláudia Braga
afirma, porém, que o novo setor iniciou com um volume grande de
inquéritos e está ainda em fase de estruturação.
"Até a gente
ajustar efetivamente o quadro da Delefin, houve redistribuição de
inquéritos. E isso atrasa porque demanda tempo para conhecer a
investigação. O primeiro ano ainda não foi significativo em celeridade.
Mas foi importante para a gente ter o levantamento dos órgãos mais
lesados e tentar agrupar os inquéritos. O primeiro ano, e acredito que
esse segundo também por conta da greve do ano passado, é de ajustes",
declara.
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