Após ter conquistado uma liminar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que mantém seu mandato, o deputado Carlomano Marques (PMDB) retornou à Assembleia Legislativa nesta terça-feira, 19, para, novamente, se defender da condenação por captação ilítica de votos. A volta foi recheada de simbolismos. Logo de início, beijou a tribuna da Casa, num gesto semelhante ao do Papa João Paulo II, que costumava beijar o chão dos lugares por onde passava.
“Esta tribuna é a minha vida. Representa toda a carga de emoção de um menino de classe média que atravessou a vida inteira pra chegar aqui”, afirmou o peemedebista, dando ares teatrais à sua performance parlamentar. Em seguida, o deputado - que nesta terça-feira comemora 59 anos - ganhou um beijo e um abraço da filha Ana Carolina Marques, que acompanhou todo o discurso do pai. A esposa do deputado, Socorro Macêdo, também esteve no plenário.
Por mais de uma hora e meia, Carlomano Marques apresentou argumentos que comprovariam sua inocência diante do flagrante noticiado pelo O POVO em setembro de 2010. A reportagem, escrita pelo repórter André Teixera, mostrou que a irmã do parlamentar, vereadora Magaly Marques (PMDB), prestava atendimentos médicos no comitê de campanha do então candidato à reeleição. No caso específico, consultou André, que realmente estava com problema de saúde, deu-lhe atestado médico e o encaminhou para um especialista. Em seguida, pediu voto para o irmão. Toda a conversa foi gravada, e serviu de base para a condenação do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE), no final do ano passado.
Segundo Carlomano, no dia deste episódio ele estava em Aracati, participando de uma audiência da Câmara Municipal. O peemedebista confirma que Magaly atendeu ao repórter, mas que foi condicionada a pedir voto, depois que André teria solicitado um atestado e questionado quem era a pessoa em cartaz colado na parede. No caso, o próprio Carlomano. Magaly então deu-lhe um santinho do candidato e afirmou: "Pois tá aí. Vote no homem".
Baseado na teoria do "fruto da árvore envenenada", o deputado defendeu que não tratou-se de captação ilícita de votos, já que a prova teria sido "forjada". "O repórter se fez que estava doente e foi atrás de Magaly para criar um flagrante", acusou Carlomano. Ao mesmo tempo, disse que não "guarda ódio" por ele. "O repórter não esperava que aquele ato - não de mau-caratismo, mas de inexperiência -, tivesse as consquências que teve", afirmou o parlamentar, que se diz humilhado diante dos desdobramentos do fato e que foi alvo de uma "emboscada". Por isso, ele espera que o TSE julgue rapidamento o mérito do processo que trata da cassação de seu diploma.
"Um: não tem crime eleitoral porque eu não comprei voto. Dois: não houve captação ilícita de voto porque o ato médico foi concluído e só depois veio a conversa política. E três: a prova é ilítica", defendeu. Em seguida, bradou: "Vou a Brasília agora porque quero que julgue o mérito logo. Não tem essa de empurrar com a barrga para se salvar. Nada disso! Eu quero é o mérito, para eu não ficar sendo humilhado todo dia, as pessoas dizendo que eu tô escondido atrás de uma liminar, pendurado numa liminar".
Para finalizar o longo discurso, beijou novamente a tribuna da Assembleia e recitou trechos de uma poesia escrita pelo jornalista Demócrito Rocha, fundador do O POVO:
"O Rio Jaguaribe é uma artéria aberta
por onde escorre
e se perde
o sangue do Ceará.
O mar não se tinge de vermelho
porque o sangue do Ceará
é azul ..."
(...)
Ninguém o escuta, ninguém o escuta
e o gigante dobra a cabeça sobre o peito
enorme,
e o gigante curva os joelhos no pó
da terra calcinada,
e
— nos últimos arrancos — vai
morrendo e resistindo
morrendo e resistindo
morrendo e resistindo".
Nenhum comentário:
Postar um comentário