sexta-feira, 8 de março de 2013

Redutos oposicionistas de Caracas reclamam de 'luto forçado'

"Assim é o socialismo: as filas são longas, e o que há não dá para todo o mundo."
A frase, lançada por um simpatizante da oposição da Venezuela no Twitter, ironiza a longa espera dos que foram se despedir de Hugo Chávez e a advertência do governo de que seria difícil que todos alcançassem seu objetivo.
A frase também dá o tom entre indiferente, mordaz e irritado com que ao menos parte da Venezuela acompanha as cerimônias, homenagens e os sete dias de luto oficial decretada para o presidente, com consequências concretas em seus cotidianos.
Desde a última quarta, estão suspensas as atividades em escolas. Foi adotado um esquema típico de eleições, com imposição de lei seca até terça e a proibição do porte de armas. Além disso, hoje foi decretado dia "não trabalhável" --nem bancos nem centros comerciais abrirão.
"Entendemos o luto, mas há situações absurdas. O primo dele se casava amanhã [hoje], todos íamos, mas a Guarda Nacional chegou ao local da festa e disse que estava proibido devido à lei seca e ao luto. Tiveram de transferir tudo para 30 de abril", diz Andrés Martínez, 25, operador de títulos da dívida venezuelana, sentado num café com o parente do noivo afetado, Luís López.
"Vinham convidados de outros lugares", lamenta López, 27, consultor financeiro.
Martínez conta que um terço dos funcionários de nível administrativo de seu escritório não apareceu para trabalhar com o anúncio da morte de Chávez. "É outro tipo de coisa que nos afeta, mas é compreensível."
Mas há coisas que prejudicam sem justificativa o consumo privado, completa Eduardo Masieu, analista da área de petróleo e gás, que completa o trio no intervalo de trabalho no distrito financeiro de Caracas.
O grupo rejeita o estereótipo do governo que o descreve como felizes pela morte de Chávez. "Claro que não há felicidade com a morte de um ser humano. Além do mais, quem pensar que isso é o fim da era chavista está equivocado, não entendeu nada nestes 14 anos. Este país é isso, não tem volta", diz López, em referência às prioridades do gasto público no país sob o chavismo.
Asdrúbal Oliveros, economista da Econalítica, uma das principais consultorias econômicas do país e um duro crítico do governo, também se queixou da reação de parte da oposição para a comoção em torno de Chávez.
"Alguém me escreve pelo BlackBerry: 'Eu pertenço à outra metade pensante'. Triste que ainda haja um segmento que não compreenda o que acontece aqui..."

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