Uma brutal piora nas expectativas da população em relação a emprego, renda e inflação alimenta um pessimismo inédito: mais da metade (55%) dos brasileiros acha que a situação econômica do país vai piorar nos próximos meses.
É o patamar mais alto desde dezembro de 1997, quando a pergunta começou a ser feita pelo Datafolha.
A deterioração do sentimento em relação ao futuro foi súbita. Em dezembro, quando a penúltima pesquisa Datafolha foi feita, a fatia dos que esperavam piora da economia era a metade: 28% dos entrevistados.
A enxurrada de acontecimentos negativos no início do ano ajuda a explicar a mudança repentina e faz do temor em relação à alta de preços o aspecto mais sombrio do desânimo geral. Oito em cada dez brasileiros esperam aumento da inflação daqui para a frente (81%, contra 54% em dezembro).
O percentual é recorde. Supera o pico registrado na pesquisa de setembro de 2001 –realizada uma semana após os atentados terroristas aos Estados Unidos–, quando 72% dos entrevistados acreditavam em alta dos preços.
Além do escândalo de corrupção na Petrobras, os brasileiros se defrontaram recentemente com um apagão, a piora na crise de abastecimento de água e uma série de mudanças que já afetaram ou ainda pesarão no bolso.
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Desde dezembro, foram anunciados aumentos de tributos e elevação dos juros sobre crédito pessoal e empréstimos imobiliários.
Os preços da gasolina e do etanol subiram, os empréstimos bancários ficaram mais caros, a conta da energia elétrica aumentou e voltará a encarecer nos próximos meses. Além disso, o clima seco pressiona os preços de alimentos, como hortaliças e legumes.
A inflação mensal de janeiro atingiu 1,24%, maior nível desde fevereiro de 2003.
A elevação de preços corrói a renda disponível e, não por acaso, pela primeira vez desde 1994, a maior parte da população adulta do país (57%) espera redução do poder de compra dos salários.
Além da inflação, outra possível causa dessa expectativa é a aposta em alta do desemprego que, se confirmada, pode levar à diminuição dos salários, depois de anos seguidos de alta.
DESEMPREGO
A fatia de brasileiros que acredita que o desemprego subirá atingiu 62%, maior nível desde julho de 2002.
A manutenção da taxa de desemprego em patamar baixo (4,8% em 2014) é explicada atualmente pela saída do mercado de trabalho de um grande contingente de brasileiros em idade ativa e não mais por uma geração vigorosa de vagas.
Pelo contrário, o número de novos postos criados despencou em 2014 para o menor nível desde 2002.
O problema é que com a piora da situação econômica –muitos especialistas já preveem uma recessão em 2015– parte dos que tinham decidido parar de trabalhar poderão ter de voltar a procurar emprego em um cenário de queda na geração de vagas.
A expectativa de que será difícil encontrar trabalho pode estar contribuindo para o mau humor generalizado.
Entre os entrevistados, o percentual dos que acham que sua própria situação econômica vai piorar mais do que dobrou entre dezembro e janeiro, alcançando 26%.